É uma obrigação, um hábito, um ritual, e se ao longo das décadas resmunguei, quando estavam a ser horas lá fui comprar os postais e os selos, caligrafei os cumprimentos, os votos, as esperanças, por vezes com a ideia de que a sinceridade das palavras sofria com as obrigações da cortesia.
Há coisa de um mês ocorreu-me que estava a chegar o momento de desejar Feliz Natal e um Próspero Ano Novo. Foi então como se caísse em mim, e tão cedo não irei recuperar da tristeza e da angústia que espera o mundo.
A mim pouco se me dá, estou perto da meta, mas com que cara posso desejar aos meus, àqueles a quem quero bem e ao próximo, que tenham um Natal Feliz e um Próspero Ano Novo, quando sei que os natais felizes e os anos prósperos acabaram, não vão voltar. Porque a ditadura está aí, nela só os líderes e os apparatchiks têm mando. Ao rebanho bastam o medo e a promessa de que para tudo há vacina.