sábado, dezembro 12

Da inclusão exclusiva

Bem me custa, mas estou a chegar ao ponto em que, tivesse eu ainda vontade de rir, diria como Samuel Goldwyn Mayer no seu pitoresco inglês: "Gentlemen, include me out". Infelizmente, até essa liberdade já me tiraram, nem devo rir, não fica bem mostrar indiferença pelos quarenta e nove mortos e os oitocentos e dezassete infectados de ontem, não sei quantos anteontem e ainda mais amanhã. Devo tomar tudo a sério, muito a sério, e mesmo que os meus olhos de cego não queiram ver isto é uma  hecatombe. Se não nos fecharmos em casa, mascarados, evitando as correntes de ar, mais dois ou três meses de tantas mortes e não fica ninguém para a amostra, talvez aqui e ali reste um político a lastimar ao microfone a falta de solidariedade responsável pela desgraça que a todos afecta, mas pelos jeitos a eles poupa, porque por mais que eu acenda velas e queime retratos dos pulhas (eles e elas) nenhum foi ainda apanhado pelo vírus, como se este já tivesse aprendido que quem se mete com os políticos leva. Um ou outro adoentado ou obeso acabará nas uci, mas a maioria dessa fauna e a excelentíssima família vai escapar cantando e rindo, porque para eles será paisagem a fome e a miséria que aí vem, do dinheiro público têm a chave na mão, o resto que se cosa e quem o não sabe aprenda, "que pobres sempre houve, é preciso que os haja".