sexta-feira, maio 1

Triste escolha


Gostava de esquecer, entreter o pensamento com coisa que me alegrasse, mas é pena perdida.

Uma epidemia medieval num mundo de vacinas e remédios para tantas mazelas, também um mundo de medo e comunicação instantânea, dando voz a todos, vendo o perigo por um  vidro de aumento. Um mundo em que há países que sugerem aos cidadãos que se acautelem e fiquem em casa, e os países de mandarins saudosos de autoritarismo que proíbem os cidadãos de sair à rua e se atiram aos desobedientes com a multa e o cassetete. Países irreais onde o poder ir ou não à praia se discute ao mais alto nível, mais estranhos ainda por serem países sem amanhã, porque neles não se pensa, não se discute, não se acautela, deixa-se o futuro ao deus-dará.

Previsão que muito me aflige, os que por sorte escaparem à peste não vão escapar à miséria, e essa não se vai ficar pelos que nela nasceram nela e dela não saem, mas vai levar à esmola os  que se julgam a salvo e nem de longe fazem ideia do negro futuro que os espera.

Chegará então o tempo de olhar para trás, fazer o balanço, recordar os especialistas, os comentadores, os mandarins, os profetas, os estudos, as estatísticas, e concluir que o rebanho cada vez se mostra mais dócil e assustadiço, nada aprende, não acredita que o estão a  habituar a que escolha entre a morte lenta e o gulag.