Em meados dos anos 80, quando ele
era redactor-chefe do semanário de grande tiragem Nieuwe Revue, comecei a atentar no que Derk
Sauer (1952) escrevia. Em 1989 emigrou para a Rússia e aí se tornou um
verdadeiro e improvável media tycoon como se pode ler na Wikipedia.
Os artigos que há anos publica ao
sábado no matutino de Amsterdam Het Parool são para mim leitura
obrigatória e de certeza a fonte de informações mais fiável sobre a vida, a
política e o desenvolvimento da Rússia.
Um apparatchik cinzento como Primeiro-Ministro
“Vinte anos atrás, quando Boris
Ieltsin empurrou um Valdimir Putin para a frente como novo líder da Rússia, eu
não fazia ideia de quem fosse. Fui falar com Paul Hofheinz, então meu vizinho e
correspondente de Time Magazine, mas também a ele o nome nada dizia.
Como não havia ainda Google telefonámos a um e a outro tentando descobrir quem
seria esse Putin, chegando à conclusão errada de que seria alguém que ia
continuar a política liberal de Ieltsin.
Esta semana todos os “Kremlinólogos”
de novo se coçam atrás da orelha, pois de verdade ninguém esperava um discurso em que Putin
anunciasse uma tão profunda mudança do sistema governativo e ao mesmo tempo
demitisse o primeiro-ministro Medvedev e o governo. Os comentadores desataram a
avançar as mais diversas conclusões, das quais de facto apenas uma é aceitável:
ninguém faz ideia quais serão os planos de Vladimir Vladimirovitch. Ele pode
demitir-se amanhã ou continuar a governar até que morra.
Nas horas que decorreram entre a
demissão de Medvedev e a nomeação do novo primeiro-ministro repetiu-se a
confusão de vinte anos atrás. No Twitter circulavam listas de possíveis
candidatos, mas nenhum analista mencionava aquele que é agora o novo
primeiro-ministro da Rússia, dá pelo nome de Mikhail Mishustin, tem 53
anos e é o patrão da Autoridade Tributária da Rússia. “Um apparatchik
cinzento”, li eu algures. O encorpado Mishustin, vestido de fatos mal
amanhados, realmente tem todo o aspecto do burocrata soviético, um desses
homens que tomam conta da loja. Mas neste caso as aparências são mesmo muito
enganadoras. Com a nomeação de Mikhail Mishustin deu um golpe de mestre.
Mishustin é um dos poucos
altos-funcionários especializados em tecnologia digital e inteligência
artificial. Putin, que nem sequer tem um computador na sua secretária, dispõe
agora de um primeiro-ministro que nos últimos anos transformou a Autoridade
Tributária russa num paraíso para jovens programadores e techies.
Mishustin introduziu um sistema
em que, desde São Petersburgo a Vladivostok todas as caixas e multibancos estão
ligados a um computador central, do que resulta que dentro de 90 segundos o
fisco está ao corrente de qualquer transacção, seja ela onde for. A inteligência
artificial permite ao fisco ser rapidamente informado se uma empresa passa demasiadas
facturas, ou menos do que aquelas que
seria de esperar. As fraudes são rapidamente detectadas e as trafulhices com o
IVA – desde sempre um grande problema na Rússia – praticamente desapareceram.
O que parecia impensável é agora
uma realidade: as declarações de impostos são feitas online e em realtime.
O envelope azul já não é preciso. Desde que Mishustin é o patrão as receitas
dos impostos dispararam para as alturas.
Creio que ao nomear Mishustin,
Putin espera dar uma forte sacudidela aos funcionários e ao aparelho do Estado.
Isso permitirá finalmente cortar pela raíz o mal da corrupção e a fraude
generalizada.
A falar verdade, a Autoridade
Tributária dos Países Baixos bem poderia empregar um Mishustin."