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Tradução deste artigo publicado no semanário Elsevier 04-01-2020
O Ocidente, com a América na
vanguarda, acha-se prisioneiro da antiga maneira da arte da guerra, diz Sean McFate
(50), ex-mercenário, perito militar actualmente ligado à Georgetown University.
‘O exército mais poderoso já não vence’
EW- Que aspecto tem a guerra
actualmente?
Sean McFate – A América luta
ainda como o fez durante a Segunda Guerra Mundial, razão porque os Estados
Unidos cada vez lutam contra muito menos inimigos, como no Vietnam e depois
contra os Taliban. Segundo as regras da antiga arte bélica, um conflito
vence-se através da ocupação de um território e de nele plantar a bandeira.
Actualmente trata-se de ganhar influência estratégica. Que importância tem o
poder do inimigo se és tu que podes influenciar quem vai ser eleito presidente?
EW – Que países compreendem
isso?
McFate – Veja como em 2014 a
Rússia roubou a Crimeia à Ucrânia. Antigamente a Rússia teria entrado por ali
dentro com tanques. Mas agora usam mercenários ex-comandos, os tais little
green men que operam secretamente. E usam também como arma a chamada “plausible
deniability” que lhes dá a possibilidade de negar toda e qualquer envolvimento caso essas actividades venham à luz. O Irão usa essas operações
secretas na Síria.
EW – Terá então a América de
usar também esses little green men?
McFate – A única maneira de defender os seus interesses será escolher a sombra para poder ripostar. O
problema é que as operações clandestinas se dão mal com a democracia. Temos de
pensar sobre isso. Entretanto só nos ocupamos com a compra de caças de combate
F-35 e porta-aviões, o que não faz sentido na nova maneira de combater.
EW – Em que países ou regiões
devemos atentar este ano no que respeita essas “guerras-secretas?”
McFate – A Rússia continua cada vez mais activa com o emprego de
mercenários no Médio Oriente e na África. A China estende com mais frequência os
seus tentáculos. O grande perigo pode estar numa “guerra acidental”, pois os
chefes militares nem sempre sabem com precisão o que os seus mercenários
executam no decurso de operações secretas em regiões de conflito. A guerra vai
ser privatizada e um mundo cheio de mercenários significa automaticamente um
mundo com mais conflitos militares.”