quinta-feira, julho 4

Bilhetes (46)



Aqui no TC está um texto  em que contabilizei algumas das vezes que me vi às portas da Morte, mas entre as duas ou três que lá faltam ocorreu-me uma que não gosto de recordar, talvez porque revela um aspecto do meu carácter que de vez em quando me torna desastrado e cego para as consequências. Que isto tenha acontecido com setenta e cinco anos feitos prova que é treta essa história da sageza dos idosos.
Desde menino que o monte fronteiro a nossa casa exercia um constante fascínio, não só por me dar a ideia de que atrás dele se escondia um mundo de maravilhas, mas também porque me perguntava como seria a aldeia vista daquele alto.
Descobrir o mundo levou-me menos tempo do que chegar ao dia em que à conversa com um amigo jovem e nascido ferrabrás, me meti com ele no seu todo-o-terreno e atacar a encosta.
Atacar é maneira de dizer, porque além de ter chovido e ser muita a lama, havia sítios em que o carreiro tinha desaparecido, noutros a inclinação era mesmo no limite ou um bocadinho para lá dele, e estar num carro que derrapa e gira numa ladeira não é bom para a saúde.
Duma maneira ou doutra conseguimos chegar ao alto, como a fotografia prova, regressámos sãos e salvos, jurando ambos que nunca mais.



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