Aqui no TC está um texto em que contabilizei algumas das vezes que me vi às portas da Morte, mas entre as duas ou três que lá faltam ocorreu-me
uma que não gosto de recordar, talvez porque revela um aspecto do meu carácter
que de vez em quando me torna desastrado e cego para as consequências. Que isto
tenha acontecido com setenta e cinco anos feitos prova que é treta essa
história da sageza dos idosos.
Desde menino que o monte fronteiro a nossa casa
exercia um constante fascínio, não só por me dar a ideia de que atrás dele se
escondia um mundo de maravilhas, mas também porque me perguntava como seria a
aldeia vista daquele alto.
Descobrir o mundo levou-me menos tempo do que
chegar ao dia em que à conversa com um amigo jovem e nascido ferrabrás, me meti com ele no seu todo-o-terreno e atacar a encosta.
Atacar é maneira de dizer, porque além de ter chovido
e ser muita a lama, havia sítios em que o carreiro tinha desaparecido, noutros
a inclinação era mesmo no limite ou um bocadinho para lá dele, e estar num carro que
derrapa e gira numa ladeira não é bom para a saúde.
Duma maneira ou doutra conseguimos chegar ao alto,
como a fotografia prova, regressámos sãos e salvos, jurando ambos que nunca
mais.