Portugal a
Flor e a Foice
J Rentes
de Carvalho
Se alguém
disser que os
Descobrimentos
foram no mar
uma
anarquia de roubos e em
terra uma
série de depredações
sanguinárias
muita gente achará
que é uma
piada de mau gosto. Se
de Vasco
da Gama se lembrar que
ordenou o
saque de uma nau de
peregrinos
de Meca e que a fez
explodir com
300 homens
mulheres
e crianças lá dentro
entre
outras violências muitos
ficarão
incomodados. E se a isto
ainda se
acrescentar que os
escritores
e intelectuais
portugueses
usaram a desculpa
da
censura para se demitirem da
realidade
política e social do país
quase
todos duvidarão que
alguém
tenha afirmado tal coisa.
Mas é de
afirmações destas e
muitas
outras do género que se
vai
fazendo o espanto perante a
quantidade
de liberdade de
pensamento
contida neste livro de
J Rentes
de Carvalho. E sendo
estranho
que se sinta um valor de
novidade
perante um livro escrito
e
publicado na Holanda em 1975,
os quase
40 anos de espera
tornam
ainda mais frenética a
urgência
de correr as páginas.
Não
importa estar de acordo ou
contra.
Importa que tudo é dito
muito
antes de haver frieza para
isso sem olhar
por cima do ombro.
Que dá
vontade de ler frases em voz
alta
perante mesas cheias só para
ver a
expressão na cara dos outros.
E que tão
depressa dá gargalhar se
um homem
vem a correr para
Portugal
quando Salazar cai da
cadeira a
contar com agitação e
encontra
toda a gente na praia,
como o
estômago pesa ainda antes
de a
frase acabar. E que tem muita
piada, mas
não é uma piada o que
tanto
vale para este episódio como
para o
livro todo.
Catarina
Homem Marques
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