São instantes em que a garganta se aperta e desviamos o olhar, esperando em vão que se abra o buraco onde queremos desaparecer.
Espero vez na caixa do restaurante. A
mulher veio buscar dois almoços. Faltam-lhe uns trocos. Bem sabia, mas a necessidade
e a fome empurram. Desculpa-se, procura, depois traz, sorri, atrapalha-se, os
que por acaso ali estamos fingimos não ver nem ouvir. O proprietário, caridoso,
entrega-lhe a comida e diz que sim, depois, então até amanhã.
Estou na Praça da Batalha, no Porto. Desço
a Rua de Santo António. O homem vem subindo, curvado, macilento. A sua roupa fala
de um bem-estar perdido, dores e desespero, urgências, medo.
A uns dez passos encara-me. Lê-se-lhe a
aflição no rosto, mede-me, vai ousar, sente que não lhe negarei a esmola, agora
ao meu lado quase me toca. Mas os nossos olhares cruzam-se, hesita um nada, a
vergonha empurra-o e continua o passo, a mim falta coragem para detê-lo.
Também este me custa a esquecer: http://tempocontado.blogspot.pt/2010/09/momentos-1.html