Em seis meses acontece de tudo, menos o que
se deseja. É infrutífera a peregrinação em torno do nosso quarto (mesmo para
quem leu Xavier de Maistre), de nada adianta espiolhar o íntimo, e fica mal
deitar ares de quem se preocupa com a crise, porque essa, a que é a sério, dói
de verdade aos que a sofrem calados, não toca os senhoritos que, à esquerda e à
direita, anunciam o que se deve fazer para que Pandora despeje sobre todos, mas
primeiro sobre eles e compadrio, o saco de dobrões.
Tive mão em mim e, avisadamente, creio, meti
a viola no saco, já deprime de sobra ver que os senis profetas de "O Sol
brilhará, para todos nós" ainda sobem ao palco, esperançados de poderem esfregar
nas chagas alheias a banha de cobra de sua receita.
Fátima não volta, nem os extra-terrestres
nos querem, por isso teremos de ir indo como até agora: sonhando com Índias e
Brasis, um Salazar que nos acuda, uma União Europeia melhor do que esta, também capaz nos
subsídios, mas que não nos venha depois afligir, exigindo contas.
Ou teremos de aceitar que nós, portugueses,
não fomos feitos para este mundo, nos puseram nele por engano. Por isso pague a
despesa quem para cá nos atirou.