terça-feira, dezembro 25

Maldade pós-natalícia


Do peito ebúrneo, da cintilação,
Fogo tardo desmembra, rasga
Faixas de noite, sulcos da alma.
Mole dissoluta. Do teu evangelho,
Crispadas centelhas de harmonia
Dançam em vertentes caudalosas
No sim da ilusão fanada do viver.
 
 As palavras que alinham a dizer suavidades e emoções, a luz do poente, as dores do coração e do amor, a mística que os eleva aos altos em que nunca voarei, nem consigo imaginar.
Com pouco dizem tanto, mas deixam-me cego, impotente, tolhido, surdo para a melodia que só eleitos e iniciados sabem ouvir.
É desespero que sinto, o de ler sem compreender, o engano em que embrulham as palavras, as armadilhas do significado, as névoas, as viravoltas. E sigo os versos com dedo de criança, soletro, esbarro, paro em desalento. São palavras que conheço, mas noutra cara, traje diferente, exigindo em tom desdenhoso que compreenda o que para mim é algaraviada.