Geou forte. Aqui em volta apontam tufos de verde, as árvores perderam a seiva, o resto é brancura, frio, desconforto.
Saíram num escuro de noite, o relógio da
igreja a dar as seis. Varas ao ombro, silenciosos como sombras, um já de
oitenta, aos outros dois faltará um ano, vão repetir o trabalho que fazem desde
criança: varejar a azeitona, apanhá-la nas lonas, guardá-la nos sacos que
irão para o lagar. Ora de pé, braços ao
alto, agitando as varas, ora curvados na apanha, esquecidos da dor e do cansaço.
Pelas encostas não se ouve uma fala, um
grito, um chamamento. Há ali uma solenidade e um recato de missa, o modo grave
do ritual atávico de semear, cuidar, colher e guardar para as horas de
precisão.
Vi-os passar, encolhidos, pressentindo o
gelo que vai abrir gretas nas mãos, entorpecer os pés, endurar os ossos. Vi-os
passar, sem pena nem sentimento de culpa do meu conforto, mas invejoso dos que, sem se interrogar, seguem
decididos um ritual e têm um propósito.
Já eles trabalhavam há mais de duas horas
quando o sol começou a derreter a geada, e eu, desolado com a inutilidade da
minha manhã e do que penso, me fui a ouvir Brahms.