Posso ser um misantropo que
se ignora, mas de verdade sou pouco dado à convivência social. Não que me
escasseie o interesse pelo semelhante e o gosto da conversa, mas desespero
quando, passado o intróito dos bons modos, em vez de uma troca de impressões,
ideias ou experiências, me vejo a soprar vento e a receber baforadas de
banalidade.
Daí que pronto me fatiga o trato e acho
conforto na solidão. Perco assim o ensejo de encontrar mais gente interessante,
e aprender o que não sei, mas feito o balanço tenho de concluir que, na
vida que levo, a probabilidade de conversas excitantes iguala a sorte de
encontrar no clássico palheiro a perdida agulha.
Há ainda o cansaço. Bom número de almas
parece insensível ao facto de usar os argumentos com impacto igual ao do aríete
nas guerras antigas, mais a agravante de que dominam a arte da fala sem pontos
nem vírgulas.
Contudo, e isto dito, não são elas e eles que
têm de mudar. Eu é que, mea culpa, devia aprender melhor as andanças do mundo.