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Um fascínio. Joelhos, e aqueles trinta centímetros de coxa que as saias curtas deixam ver, os olhos passam num relâmpago, elas nem dão conta, mas mulher sentada à sua frente é avaliada por esse particular.
Galanteios, apartes bem doseados, conhece de sobra a arte e em geral vence. Agora se ela tem joelhos redondos e lisos, coxas prometedoras, a fantasia dispara, custa-lhe seguir a conversa, imagina-se amante submisso a despi-la com delicadezas de pajem, refinando carícias, deleitado de vê-la rebolar os olhos, suspiros prolongados em roncos, lábios entreabertos, as mãos inquietas a arrepanhar o lençol.Tinham combinado na esplanada, às oito, mas Manuela não é de pontualidades nem avisos. Quando finalmente aparece nada de desculpas ou beijos, acena olá e deixa-se cair na cadeira com uma afogação de teatro.
- Ao sair do táxi dei um tombo!
Senta-se de lado, repuxa a saia a mostrar os joelhos, ele aproximando-se, debruçado, a fingir atenção, só arranhadelas, tão leves que nem sangram.
- Dói? Queres ir à farmácia?
- Não. Isto não é nada.
Manuela, a afilhada, o bebé que levou ao baptismo, a miúda que viu crescer, a bela rapariga de vinte e poucos anos que agora tapa a boca às mãos ambas e não consegue parar o riso.
- O que é?
- Não digo.
- Não sejas criança - e voltando-se para o empregado: - Outro café, um sumo de laranja - Diz lá.
- O meu pai!.. – o riso sufoca-a, das outras mesas há quem se volte num modo entre a simpatia e o incómodo, supondo talvez uma inconveniência do cinquentão.
- O meu pai!... Não, não, a minha mãe também! Lá em casa estão sempre a dizer que tens uma coisa com joelhos, assim como um fetichismo, e quando te vi a olhar!...
Abana a cabeça, que tolice é essa, sobressaltado pela lentidão com que a afilhada cruza as pernas, surpreso do pensamento que lhe ocorre e nunca tinha tido.
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Doutzen Kroes só ilustra a história, a fotografia foi tirada daqui.