domingo, setembro 11

Amsterdam

Fiz contas. Vai para cinquenta e seis anos que vivo em Amsterdam. Pertenço-lhe como ela me pertence. Deixo-lhe filhos, netos, marca da minha presença na vida social e literária, uns tantos estudantes que recordam o que de mim aprenderam, uma mão-cheia de gente que me quer bem, bastantes que sabem quem sou quando me cruzam na rua. Há livros meus nas livrarias, nas bibliotecas e nos lares, quem procurar no Arquivo Municipal -  Stadsarchief – descobre lá o meu retrato.
Para quem nela começou na estaca zero, é alguma coisa. Para o tempo de uma vida nem por isso. Tenho gasto mais dias e noites a observar a cidade e a maravilhar-me com o espectáculo, do que tenho empregue em obra útil. Mas não me arrependo nem sinto remorso. Foi essa a  escolha, vivo preguiçosamente em consequência.