Uns festejam, outros carregam o sobrolho: o ex-primeiro-ministro foi a Berlim visitar frau Merkel, sua grande amiga, e depois a Madrid, abraçar o senhor Zapatero, também ele grande amigo e compincha.
Não era o caso de Salazar, esse dispensava amigos, mas depois da Abrilada o componente amizade entrou na política portuguesa pela mão de Mário Soares, incansável a nomear "mon ami Mitterrand" , mon ami Olof Palme, mon ami Den Uyl, mon ami Willy Brandt e os mais "amis" à porta dos quais batia a mendigar a ajudinha.
Entristece, porque revela muito da pobreza e atraso de uma nação, a crença bacoca de que a amizade conta na política, nas relações internacionais, nos interesses do mundo, ou nas voltas e revoltas da sociedade.
Um "mon ami Mitterrand" é basófia parola. Publicitar a visita do senhor Sócrates aos seus amigos, pressupondo nela ameaças para quem agora manda ou esperança de favores e ajudas, é de tolos. Na realidade do mundo adulto e da gente séria não há negociatas ao jantar, nem visitas, tomam-se decisões durante pequenos-almoços de trabalho, às sete da manhã, com uma sande e mau café em copos de plástico.
Infelizmente, quem é pequenino usa lentes de aumento e até a si próprio se vê ampliado. Faz de Portugal uma Alemanha, imagina o senhor Sócrates com a estatura da chanceler, quiçá capaz de influenciá-la com a magia da sua profunda amizade.
Desiludam-se, meninos. Há que pagar o que se deve. Não lhes digo que vão trabalhar, sabendo que o trabalho escasseia e é pouco o ganho que dá, mas esqueçam as amizades, aprendam que as nações não vivem de jeitos, nem às ricas interessa a miséria das necessitadas.