Pergunta ele, no tom de quem inesperadamente suspeita estar defronte de um deficiente mental:
- Mas é mesmo verdade? Não vê televisão?
- Não.
- Nem as notícias? A política?
- No restaurante apanho uma ou outra imagem, mas de facto não me interessa. O pouco que vejo não conta.
Aquilo desnorteia-o. Depois, zombeteiro, mostra que não me leva a sério:
- Toda a gente vê televisão! O mundo inteiro vê!
- Eu também, mas mais por acaso. Não me interessa.
- Nem as telenovelas?
- Nem as telenovelas.
Procura outro ângulo:
- E documentários sobre a Natureza, os da bicharada?
- Não aprecio.
Acaba-se-lhe a paciência e vira para o desdenhoso:
- Então consigo é só livros?
- Claro que não.
- Olhe que nos livros há muita tolice.
- Pois há.
Como se termina uma conversa como esta, reproduzida aqui ipsis verbis? Aproveitando o Avé no relógio da igreja e as badaladas do meio-dia.