Dor, a verdadeira, a que magoa fundo, conta-se a poucos. Não precisam de ser íntimos, podem ser escolha de acaso ou mostrar empatia, estar presentes no momento de fraqueza em que pomos a nu o sofrimento.
Dor terrível, a que revela como somos impotentes, incapazes, inúteis, enleados nas palavras e nos actos. O que se diz da dor fica aquém. O que sobre ela versejam os poetas, mesmo os talentosos, deixa um travo, soa a fabrico, raro a pena sentida. Dor é tempestade e trevas, punhais embotados, males do Inferno, horas infindas, dia sem alvorada. E silêncio.
A dor conta-se a poucos, disse eu. Não é verdade. O que se conta é a versão cosmética, compreensível, dentro do aceitável. Dor verdadeira cala-se e esconde-se.