Como em toda a parte, aqui na aldeia a televisão mudou as mentalidades e as atitudes, os hábitos, as maneiras. Influiu nas formas de tratamento, no vestuário. Hoje só as muito idosas recusam as calças, continuam a andar de xaile pelas costas e lenço na cabeça. Curiosamente, porém, foi a televisão, onde tudo são festas e happy ends, que veio criar o tabu do divórcio.
Haverá entre os descendentes da aldeia, graças a Deus vivendo longe e facilitando assim a ilusão, uma meia dúzia de mulheres divorciadas. Toda a gente o sabe, e que o não soubesse facilmente adivinharia, mas contra a lógica e o bom senso, uns pais calam e sofrem, outros escolhem o teatro. Esses referem em detalhe o que o genro disse, o que o genro fez, o que vai fazer, que um dia destes tem tenção de aparecer por cá...
A gente ouve, acena que sim e sente pena, mas o tabu é tão forte que, mesmo com o exemplo das telenovelas, a ninguém passaria pela cabeça o ousar quebrá-lo.
