sexta-feira, agosto 7

O "Condição"

A alcunha tinham-lha posto no café, porque ao fim do jogo começava num falatório de exercícios e aparelhos, e era os pesos, e era as barras, os halteres, fosse ele governo toda a gente seria obrigada a treinar, treinar e mais treinar, pra manter uma boa condição física. Olhassem pra ele: só músculo.

Tanto repetia aquilo que ficou o "Condição Física". Mais tarde, para simplificar, passou a ser o "Condição", e raros sabiam donde lhe vinha o sobrenome.

Com um nada ia aos arames, nos anos noventa começara a usar a cabeça rapada, trabalhava num pesqueiro e, para que se visse que ia ali lobo-do-mar, gingava o passo, usava boné de pala.

Juntara-se por desfastio. Tinha sido a Carolina, podia ter calhado outra, que eram todas iguais. No resto, quando estava em terra, comida a horas, roupa lavada, que o deixasse ver a televisão em sossego e não fosse de queixinhas. À antiga. Se dizia, "Vai prò quarto", quando chegasse lá queria encontrá-la pronta. Zás! Não tinha paciência pra beijinhos e merdices.

Arriava-lhe de vez em quando, às vezes demais, mas era para que andasse na linha. Modo de dizer. Que o desse ao patrão ou a outro, os cornos não lhe faziam mossa. O bago é que contava.

Quando lhe apanhou o dinheiro na cómoda avisou-a que não ia ser cem, ia ser quinhentos todas as semanas. Certinhos. Se falhasse punha-a de molho,  ia ele ter uma conversa com o doutor Berdamerda.

Até agora cumprira. Entretanto dava voltas à cabeça, como iria fazer para, sem encrencas, chupar bem chupada aquela teta. 

in Mentiras & Diamantes - Quetzal, 2013