quarta-feira, novembro 9

Deixa andar

Anos atrás escrevi a Deus(*) e durante um tempo tive a impressão que Ele tinha ouvido a minha prece. Mas tal como acontece com os produtos, talvez as orações tenham também  prazo de validade para a eficiência, pois ao contrário de como gostava de ser e permanecer, estou a dar comigo estranhamente manso.
Uns dizem-me que é cansaço, a minha mulher alvitra a idade, os brejeiros sorriem e, piscando o olho, garantem que o meu modo é só fingimento, aparento duro mas no íntimo sou  de algodão em rama.
Ultimamente dou comigo a compreender, a perdoar, a dizer-me que o outro talvez tenha a sua razão, o sacana é capaz de proceder assim por engano, nem todos os trafulhas merecem o azorrague.
Desconheço-me. Este não sou eu.Tenho vontade de sair em busca de zaragata. Mas num povoado de gerontes a possibilidade é nula de encontrar parceiro belicoso, fora que todos eles há muito alcançaram o estádio em que agora me encontro: o do deixa andar.
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(*) http://tempocontado.blogspot.com/2007/01/escutai-senhor.html