domingo, março 16

Boa notícia


Seria injusto desconfiar das minhas palavras, ou supor nelas ironia, pois foi com genuína satisfação, e até recordo ter sorrido, quando soube que um vasto número de portugueses, embora consiga ler um texto, tem dificuldade ou é mesmo incapaz de interpretá-lo, a não ser que o assunto em questão seja o futebol.

O jogo em si, evidentemente, mas para lá dele o sem-fim de campeonatos, transferências, rixas, golos, inimizades, bofetadas, roubalheiras, trafulhices, escândalos, o astronómico rodopio de milhões. Também e ainda, deixando-me de boca aberta, o espectacular exotismo de, em estádios onde o sol queima, ver árabes embrulhados em albornoz de lã, a aplaudir a infinda sucessão das proezas de Ronaldo.

Poderia continuar, mas má sorte que me cabe, ainda miúdo perdi o entusiasmo pelo futebol, isso tanto por ser pouco ou nada inclinado ao que implique esforço físico e agilidade, como também porque cedo paguei as favas, pois sendo de pequena estatura entre matulões, esses por vezes descuidados, noutras com mau propósito, fingiam confundir-me com a bola, e era eu quem levava os pontapés.

Voltando ao que interessa, e embora dê a impressão de que estou a puxar a braza para a minha sardinha. Seja como for, importante mesmo é que as pessoas leiam, não o assunto da leitura, pois tendo já o hábito, chega sempre o dia em que os olhos pousam noutro assunto, então a probabilidade é grande que o “bicho” morda, e o interesse salte do futebol para – não direi os sábios comentários sobre a guerra na Ucrânia ou o mau humor do presidente Trump - mas já agora, e como faz duzentos anos que nasceu, um romance do grande Camilo Castelo Branco, seja ele O Amor de Perdição ou, melhor ainda, se bem que menos popular,  Coração, Cabeça e Estômago.

 

 


sexta-feira, março 14

Eça dixit

 

https://observador.pt/opiniao/os-politicos-de-eca-de-queiroz/

quinta-feira, março 13

Com senso

 

https://observador.pt/opiniao/manifesto-contra-os-consensos/

terça-feira, março 11

Dá quem pode, recebe quem quer

 

https://sol.sapo.pt/2025/03/10/o-financiamento-do-wokismo/

domingo, março 9

A pulhítica que temos

 

A franqueza manda confessar o desinteresse que há muito tenho pela política nacional, causado não só pela personalidade e a actuação dos que dela fazem modo de vida, como pelo triste espectáculo que é vê-los a saltitar de uma trafulhice para a seguinte, de um “desvio” para outro mais lucrativo. Na argumentação da sua defesa poderiam aprender com os que nas feiras vendem banha de cobra, mas incapazes que são, até para isso lhes falta flair.

Medíocres, cinzentos, nem carne nem peixe, metem os pés pelas mãos, debitam um palavreado de trivialidades, embrulham-se nos argumentos, custa imaginar que gente assim seja eleita pelos cidadãos para o govêrno do país, quando a sua “competência” até uma loja do chinês levaria à bancarrota.

Todavia, outro galo canta se o interesse é do próprio bolso, pois então mostram-se campiões do malabarismo e nem Houdini, fosse ele vivo, lhes levaria a palma.

“Mas tudo pode mudar nas próximas eleições”, sussurram-me ingénuos bem intencionados. Ou que aconteça um milagre. Ou que com esta maré das direitas a ganhar, o Chega avance e demonstre se é capaz de fazer diferente. Juram outros, que mais auspicioso ainda, e quase garantia de um futuro melhor para Portugal, seria que em vez das tristes figuras ansiosas por se verem sentadas no cadeirão presidencial, o almirante  se pusesse em marcha acelerada para Belém.

Sonhadores inveterados, para esses não há vacina que os proteja dos acessos de nostalgia do antigamente, nem do desejo que um homem forte apareça a segurar as rédeas do mando. Garantem que, com genica e autoridade, a esse pouco custará pôr no bom caminho os figurões que fingem mudar a música e a valsa, quando de facto, de braço dado, há cinquenta anos se requebram a dançar o mesmo tango.

 

quarta-feira, março 5

Qual vergonha?

 

https://derterrorist.blogs.sapo.pt/primeiro-caddy-6269641

domingo, março 2

Pontos de vista

 

http://portugalcontemporaneo.blogspot.com/2025/03/o-muro-da-vergonha-73.html

Manda quem pode

 

O provérbio ouvi-o ainda miúdo, à minha avó Elisa, cada vez que o correio lhe trazia a malfadada intimação para pagar “a décima”, um para mim misterioso vocábulo, tanto mais que ao recebê-la ela ensombrava, e vinham-lhe as lágrimas aos olhos.

Sem curiosidade pelas preocupações dos adultos, levei anos a descobrir que era um imposto arbitrário, de facto calculado a olho, sobre a produção agrícola dos terrenos, e motivo de sobra para verdadeiros traumas.

Porém, como a alternativa ao não pagamento seria o confisco, por muito que doesse o único remédio era perder um dia de trabalho, e ir à vila entregar o dinheiro às Finanças.

Que fora de qualquer dúvida manda quem pode, ocorreu-me a semana passada ao ouvir a lição do Vice-Presidente J.D. Vance aos “miúdos” da União Europeia. Caladinhos, quietos, espantados com a bruteza daquele americano, que sem vergonha na cara nem papas na língua, lhes dizia alto e bom som as verdades que eles de sobra conhecem, e melhor ainda trafulham, parasitas que são da res publica, gastando tempo e fundos a estudar e legislar sobre assuntos tão importantes como a necessidade de impedir que as tampas possam ser separadas das embalagens.

Inesquecível e histórico momento, já revi a cena umas quantas vezes, não para atentar nas palavras do vice-presidente, mas com malícia, interessado na expressão de choque dos rostos da assistência, alguns literalmente de boca aberta e olhos arregalados, descrentes do que ouviam e temendo a conclusão.

Fui – quem o não foi nessa altura? – um sincero idealista da união dos países e a abolição das fronteiras, mas a esse entusiasmo há muito disse adeus, sem que fosse preciso ver na rua a fúria  dos agricultores. Grande pena, mas a UE é chão que já deu uvas.