De nada adianta dizer estou aqui, em carne e osso, presente, olhos abertos,
repetindo que existo. Bem posso gritá-lo, este ou aquele distraidamente dará
conta, logo esquecendo, confundindo o meu grito com o seu, imaginando ecos.
Quanto mais tempo existo mais estranha se me torna a percepção do semelhante e de mim próprio, toma-me o receio – de facto o pânico – que vivo a imitar, a supor, iludindo-me que vou por um caminho, negando que há muito não mexo, se é que jamais me dei conta de realmente existir, participar, pertencer.
Sinto-me no mundo, mas acorrentado a ele, estranha cadeia que, embora virtual, é a que mais dolorosamente prende, exigindo a morte como preço da libertação.