Devo dizer que de começo estranhei e a leitura não me entusiasmou. Mas à medida que nela progredia, fui caindo de susto em assombro, menos por culpa da autora, do que pelo transtornado desejo que sempre tenho, ser personagem nas histórias doutrem. Se a coisa me atrai, em vez de ler tresleio, quando dou por mim estou enterrado até às orelhas nas reviravoltas da vida alheia. Mas desta vez exagerei mais do que o costume, fazendo do que lia o pano de fundo da minha alucinação.
Assim me vi num Éden sem passado nem futuro, só presente, abundante de festas e sol, caipirinhas, praias douradas, Joanas púberes e menos púberes, Donatellas maduras, mulatas com o sangue de sete nações, aqui e ali uma gazela, além uma corça, acolá uma pantera.
Estava eu nesse enlevo, certo de que se iriam repetir os gozos dos meus melhores anos, quando em modo igual ao com que Vénus e Ursula Andress ("a major sex symbol of the 1960s and James Bond object of desire in Dr. No") saem das ondas, se ergueu radiante uma jovem esbelta, felina e pernilonga que, estendendo ambas as mãos ...
Os safanões da minha mulher, perguntando se me tinha dado alguma coisa - com os idosos nunca se sabe - demoraram a tirar-me do devaneio, mas por fim, fechando o livro e escondendo a capa, balbuciei que me sentia exausto.
- Leitura interessante?
Tomei o modo enfastiado de quem lê Agustina :
-Asim, assim. Nestes modernos é sexo e mais sexo, droga, bebida, festas... A rapariga escreve escorreito, é original, mostra algum talento...
- Rapariga? Conheces?
Com característica leviandade feminina virou-me as costas, desinteressada da resposta.
Encolhi os ombros e à noite terminei o livro, sonhei o resto. Desde então, quando o abro, elas saem dentre as páginas e dão-me o braço, sussurram que não tenho que ir fazer noventa e três anos. Venda a alma, deixe-me levar, elas me mostrarão como se volta aos trinta.
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A partir de hoje, e até data incerta, este blog não será actualizado. Desculpas a quem o costuma visitar.