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Quem me conhece um pouco sabe das dificuldades que tenho com
alguma poesia, alguns poetas, e a idolatria que ataca certas almas, levando-as a
perder as estribeiras se, num acesso de franqueza, lhes confesso a pouca
valia em que tenho o seu ídolo e a obra do dito. Cai o Carmo, cai a Trindade, por
vezes finda assim o que parecia amizade.
Deve ter sido pelas razões acima que ontem, num jantar,
embasbaquei os convivas ao dizer-lhes que, num livro que por acaso me viera às
mãos, tinha lido com interesse e apreço a poesia de uma senhora de que nunca ouvira
falar.
Perdi-me de amores pela obra? Converti-me à obrigação de,
a partir de agora, todos os dias ler poesia? Longe disso. Mas foi grande e
agradável surpresa a novidade do tom, directo, simples e forte, a franqueza sem
rodriguinhos nem lamechices, a desenvoltura do vocabulário quase – desculpem lá
– parecendo ser obra de homem.
Foi uma boa surpresa, e ao talento de Eugénia de Vasconcellos aqui deixo vénia.