(Clique)
Cada um pensa, acredita e exprime o que lhe apetece, ninguém
tem a ver com isso. Infelizmente, o problema põe-se quando amigos que sabemos excepcionalmente
argutos e dotados de superior inteligência, começam a defender o indefensável, a
mostrar que compreendem o absurdo, desculpam o que não pode ter desculpa, exigem
aos gritos que se veja branco onde a evidência e os olhos sem cataractas só
vêem preto.
Pode ser cegueira, ataque de fanatismo, acesso de loucura
de que talvez um dia, o caso arrumado, se venham a curar. Pode ser também que
lhes tenham dado o famoso e eficiente caldo de galinha preta, aquele que no
longe dos tempos trouxemos de África, e de que também fala o Livro de São
Cipriano.
Entram nele canja de galinha preta, mênstruo, rosmaninho,
incenso, entranhas de sapo, um cozimento de carne de cobra e outros
ingredientes que é melhor não revelar.
Consta que o faziam antigamente as mulheres de Ílhavo, e o
davam a comer aos seus homens antes de saírem a pescar na Terra Nova, não
fossem eles morder o anzol de alguma loira de pele macia das de lá. Na minha
juventude também as do Alto Minho o davam aos maridos e aos rapazes em maré de
tentação. Comido o caldo, os pobres andavam por ali como zombies, perdiam por
inteiro a vontade, só viam o que queriam ver.