Seria cruel desenhar-lhe o físico, ou
descrever os tiques. Baste notar que é do tipo stalker, há anos que num ou outro evento avança direito a mim, o
sorriso pronto, a câmara ao jeito de pistola.
Apertada a mão, vai direito ao assunto, espera que me pasme, ou pelo menos sorria.
Desta vez foi a sua mítica viagem pela
Europa em 1970. Terá dito 72, 69? Oiço mal, a gente é sempre muita, grande o barulho, por menos se
me escapa a atenção. Mas pouco importa.
Conta ele que, chegado a Amsterdam, logo se
lhe abriu a boca. E não foi pelos canais, nem pelas jovens esbeltas, loiras, despachadas,
ou pela insegurança de se saber metros abaixo do nível do mar. Foi, sim, por um
cartaz na frontaria de um cinema, reclame para o então muito discutido filme The Canterbury Tales.
- Era gigantesco. O nome da fita em letra
pequena e dois cus muito grandes, mas mesmo muito grandes, enormes, virados
para a rua! Por cá nunca se via aquilo. Ainda estávamos muito atrasados.
Depois fui pra Paris.Por causa do Marlon
Brando no Último Tango em Paris.Cá não se podia. Viu?
- Sim.
- Então já sabe, mas pra mim foi novidade. Não
é que a manteiga não se usa só pra barrar o pão? Está-me a compreender?
Seguro da minha resposta, virou as
costas, foi apontar a câmara a outro.