sábado, maio 4

Profecias

São mostras de simpatia para quem as dá, aquele que as recebe agradece, e ao mesmo tempo finge que não sente o aperto do coração.
A um amigo, adiantado em anos, que no alpendre guardava carradas de lenha bastante para manter acesa a lareira durante anos, no dia em que encomendou mais, o fornecedor mediu com o olhar o monte de toros que já ali havia, encarou-lhe as rugas e, sem malícia, fez a profecia:
- Tenho a certeza que não a gasta toda.
Quase o mesmo ouvi eu, quando fui buscar uns cartões que tinha encomendado, para não estar sempre a escrevinhar o endereço de e-mail e os números dos vários telefones.
Insistindo que verificasse se tudo estava como devia ser, o mais que simpático e competente tipógrafo esclareceu, encarando ele também as minhas rugas e o estrago dos anos:
- O senhor encomendou duzentos, mas não vai precisar de tantos. Fiz cento e cinquenta. Acho que chegam.
Foi cuidado, foi carinho, e agora aqui estou eu, supersticioso desde o berço, a dizer-me que cada vez que alguém me leva um cartão me leva um dia de vida, uma semana, um mês, porque cento e cinquenta anos não vou durar.