É uma avaria de nada na iluminação da cozinha, mas por mais voltas que dê não consigo descobrir a falha, de modo que terá de vir quem entenda da coisa.
Esse desarranjo corriqueiro leva-me a uma triste conclusão: do que me
ensinaram, e daquilo que fui aprendendo, nada tem utilidade prática. O mais
pequeno transtorno prova abonde – diria José
Quitério – a fragilidade em que vive aquele que sabe alguma coisa das Letras,
mas é ignaro dos rudimentos técnicos necessários para manter uma casa a
funcionar.
Em Amsterdam ainda me salvo, um telefonema resolve tudo,
mas chegando à aldeia, os roncos da caldeira do aquecimento, o gorgolejar da
água na canalização, as torneiras que pingam, o reboco que despega, os
interruptores que chispam, todos esses fenómenos os encaro eu como outras
tantas ameaças à minha paz e o equivalente dos zeros que levei em matemática.
Sofro com isso, e não pouco. E também de ter nascido duplamente canhoto, quando uma mão direita capaz de funcionar me daria jeito.