Informa a CP na Internet que o primeiro
comboio do Pocinho para o Porto sai às 07.05.
Esta manhã, às 07.05, na estação não há
vivalma, nem aparência de funcionário. Em ponto morto, o diesel do comboiozinho
produz um barulho de inferno. Espalhadas pelas três carruagens, meia dúzia de pessoas, soturnas
e cabisbaixas, parecem estar ali de figurantes numa telenovela de desgraça.
Às 07.15 tudo na mesma. Subo a um banco
para poder ler o horário, colocado a dois metros e pico acima do chão, e impresso
em letra tipo 6. Lá está: 07.05.
Saio da estação e dou com dois cavalheiros
que aproveitam o solzinho da manhã. Não usam
uniforme, mas pergunto se são do comboio. Respondem enfastiados que são
do comboio e a partida agora é às 07.25.
- No horário…
- Agora é às 07.25.
Mais não acrescentam, e pelo trejeito
demonstram que acaba ali a conversa.
Minutos depois ambos os cavalheiros entram no
comboio, o chefe da estação aparece com a sua bandeira, apita, o TGV da linha
do Douro arranca.
Inquiro do chefe e ele, cortês, explica que
"a partida agora é às 07.25, em relação com o conflito laboral dos
senhores maquinistas."
E eu vou-me
dali, resmungando que é essa uma das muitas aberrações que a igualdade
democrática nos trouxe: a demasia de
senhores.