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Zandvoort é a praia de Amsterdam. Vinte minutos de carro, se tanto. Sempre multidão, mesmo na esplanada do hotel Bouwes, the place to be e poiso favorito da “plebe de luxo” (em holandês: luxe penoze) dos Rolex genuínos, Cayennes, Carreras, Jaguars, diamantes, putas que não parecem putas, champanhe, Partagas, muito riso, aqui e ali turistas de olhos arregalados, perguntando-se se aquilo será filme ou televisão, porque realidade não parece.
Sabendo-o imprevisível não me perguntei porque marcara o encontro em semelhante lugar, pois com mais conforto e menos viagem teríamos falado no seu escritório ou num dos cafés da vizinhança. Mas não senhor:
- No Bouwes. Às seis.
- Pois sim.
Vejo-o aproximar-se, sessentão erecto, impecável no modo e no fato, aperto de mão a este, sorriso àquele, aceno breve aos que já defendeu no tribunal, abraço ao colega, beijinho à dama.
Senta-se de costas para eles, diz ao empregado que também quer cerveja, faz um esgar de enfado, mas em vez de entrar no assunto do encontro pergunta à queima-roupa:
- Quantas vezes urinas por hora?
- Quantas vezes? Não faço ideia!
A expressão do seu rosto impede-me de rir e ele explica. Com a próstata não tem problemas, mas disseram-lhe, e parece que é mesmo sério, urinando quatro ou mais vezes por hora sem sofrer da próstata indica isso problema cardíaco. Coisa grave. Era o que lhe acontecia agora. Mas não queria ainda consultar o médico, perguntava aos amigos.
Não pedi explicações, não o contradisse, não minimizei a sua preocupação. Deixei-o falar. E ele falou, longamente. Dos medos, da velhice, dos amores falhados, dos desencantos. Continuou durante o jantar. Decidimos depois que o nosso assunto ficaria para outra altura, mas quando nos separámos tive de sorrir, porque nas quase cinco horas de convívio não tinha ido à casa de banho.