segunda-feira, setembro 20

A arte de ler



Com a idade todos perdemos a inocência, mas muitos são os que ao mesmo tempo também perdem a arte de ler que a inocência lhes tinha ensinado. Quando agora  lêem não se deixam arrastar pelas peripécias, não lhes interessa a beleza das palavras, escapa-lhes o enredo, aborrece-os a novidade. A leitura torna-se-lhes o espelho onde procuram o reflexo das suas grandes e pequeninas raivas, dos seus desapontamentos. Em vez de aprender ou tentar  compreender, projectam nos personagens o que no íntimo carregam de aversões e ódios, antipatias, desgostos, inconscientemente fazem da leitura um instrumento de agressão.
Aquele personagem de certeza é pedófilo, e eles odeiam pedófilos. Nos romances de fulano todas as mulheres são bonitas, longas das pernas, perfumadas, elegantes no modo! Um nojo. Só um homossexual inventa uma mãe assim! Este nunca viveu numa aldeia!


É pena, mas verdade: na vida ou na leitura dificilmente se reganha a inocência perdida.