Que com o correr dos anos muito se aprende é afirmação válida em tempos passados, e para outro tipo de pessoa, pois no que me diz respeito, esse suposto muito, que me deveria ter cabido pelas nove décadas de caminho andado, mostra-se excepcionalmente escasso.
Por preguiça não foi, e por ser essa a minha natureza tenho-me desunhado a aprender, a ouvir, a aceitar, a fazer das tripas coração cada vez que a necessidade ou a gentileza o pedem. Também não foi por desinteresse, pois creio raras vezes ter-me poupado o esforço de observar, manter-me ao corrente, aceitar as normas que por vezes me incomodam, mas considero necessárias ou indispensáveis ao bem-comum.
Mau grado a boa disposição e apressada curiosidade, a armadilha com que o progresso me apanhou foi traiçoeira. Mostrou-se com tentações que não destoariam das de Cleópatra, iludiu-me a ponto de, com pressa e excesso de entusiasmo, deitar fora a máquina de escrever, que durante meio século tinha sido o meu arado, e render-me à maravilha do progresso, comprando um computador.
Seria injusto, e faltaria à verdade, se não confessasse que os oito ou nove que até agora “gastei” cumpriram o que deles esperava. Mas o que desde há cerca de um ano e pico me troca as voltas, e com irritante frequência põe à beira da crise de nervos, ou na iminência de por desespero me dar em espectáculo, é a para mim incrível, e estonteante celeridade da mudança de programas, códigos, fórmulas, passwords - nem por gracejo me atreveria a dizer senhas - tudo à mistura com um vocabulário que, além de arrevezado, tem toda a aparência do linguajar de iniciados numa seita.
Ao leitor parecerá isto o queixume de um tonto, mas de verdade é apenas a confissão de me ver sem músculo para correr na maratona do progresso.