domingo, novembro 12

Cara-de-pau


A minha mulher diz que é o Destino, eu perguntou-me por que carga de água tenho de ser o escolhido.

Como sempre fazem  quando estão de volta, a Regina e o Abreu telefonaram a dizer que correu tudo bem. Estiveram na Argentina, Bolívia, Paraguai, passaram no Iguaçu, deram uma volta pelo Pantanal, mas ainda nem desfizeram as malas, por isso só depois de amanhã ao fim da tarde virão contar tudo.

Desanimadora perspectiva. Uns dez anos atrás este simpático casal descobriu o feitiço das viagens, e assim, ela dentista reformada, ele podre de rico, o muito tempo livre que a desafogada existência lhes proporciona, gastam-no a ver mundo.

Nada a censurar, bem ao contrário, eles próprios sublinham de vez em quando os benefícios do turismo para a economia dos países, fora o impacto positivo que a presença de turistas tem na mentalidade e nos hábitos das populações atrasadas.

Aceno sempre que sim, pois além de serem ambos gente agarrada ao bem fundado das suas opiniões, suportam mal debates e discordâncias. Típica de ambos, e também repetida ao longo do tempo, mas graças a Deus nunca realizada, era a promessa de trazerem os vídeos e as fotografias que agora reservam para o Facebook.

Delicados, boa gente, facilmente se passa a esponja sobre as suas falhas e idiossincrasias, embora uma dessas custe a digerir. Dá-se o caso que, seja a Galleria degli Uffizi em Florença, o Hermitage de São Petersburgo, o Taj Mahal, a Cordilheira dos Andes, a selva africana, os mosteiros da Grécia, a paisagem da Anatólia, perguntados sobre tudo isso e o mais que já viram, só se lhes tira um comentário: "É espectacular! Gostámos muito!"

Reprimindo o bocejo, faço de modo que a cara que ponho não traia o que penso, perguntando-me de que adianta tanta viagem para tão pequeninas cabeças.