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"De
facto, quando nos agarramos a um livro vamos em busca de quê? Mesmo quando
aparentemente procuramos apenas uma trivial forma de evasão, no mais fundo de
nós desejamos um encontro com alguma coisa de mais sincero e desperto do que o
quadro sonâmbulo das convenções, um punhado de luz capaz de romper o mar de
gelo do tempo, uma iniciação à arte difícil da verdade. Pois precisamos de
ajuda para compreender aquilo que se experimenta não só sendo outra pessoa, com
uma vida diferente da nossa, mas também para abraçar, com uma sabedoria que
tantas vezes nos falta, a nossa própria vida. A literatura é isso: um hospital
de campanha, um centro portátil de interpretação, uma operação de socorro aos
náufragos que somos nós todos.
Condicioná-la, falsificá-la, diluí-la é um atentado contra a
humanidade, de que a literatura é um bem irremovível."
Os que gostam de ler, e os que
sentem a necessidade de escrever, tirarão proveito destas palavras de José
Tolentino Mendonça na revista do Expresso (8/10/2016).