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São muitas e
estranhas as razões que nos prendem a língua. O que calamos por medo, tibieza,
cobardia, mas também por caridade, outras vezes desencanto, a perguntarmo-nos
como é que depois somos capazes de sorrir com tanta naturalidade.
Fechamos os
olhos e o entendimento, somos prontos no salamaleque, com um gesto largo damos
ao outro a primazia e encolhemos o pé que preparava a rasteira.
É corrente
dizer-se que a vida é teatro, e é possível que para os simples assim seja, mas
na realidade está longe de sê-lo. A vida é campo de batalha, com lutas corpo a
corpo e bombas armadilhadas, explosões, sabotagens no escritório, nos
tribunais, na estrada, nos armazéns, no estádio, na cama de casal.
Descreiam os
que ainda não assistiram nem participaram, mas também a esses chegará a hora de
calar, como hão-de aprender que a serenidade do dia-a-dia é cortina de fumo a
esconder ataques e contra-ataques, hostilidades em que nada contam os
armistícios, as tréguas para recolher feridos, os acenos de bandeira branca.
A vida, como Clausewitz o diz da guerra, é o domínio do esforço físico e
do sofrimento.
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Publicado no CM