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Dá-se agora com a morte de David Bowie, vezes sem conta o vi
suceder antes, não há dúvida que se repetirá. E bem é, porque dá prova de que
são tantos os que possuem a maravilhosa qualidade de sinceramente idolatrar, de
confessar-se gratos pelas emoções e sentimentos que o seu ídolo lhes provocou.
O caso é que digo isto surpreso e com uma ponta de inveja,
pois por muito que procure ao longo dos meus tantos anos, de menino a velho não
descubro personagem que me tenha despertado esse sentimento.
Admiração, sim. Aquela surpresa que nos torna minúsculos
perante o talento ou a ciência alheia, o calafrio que dão certas músicas.
Conheço a amizade, o amor, o carinho, constantemente me vejo
a admirar, raro passa dia que por razões várias me não comova, me alegre, me
irrite, o que prova algum sentir.
Falta-me, todavia, essa capacidade de idolatrar, de osmose,
de permitir a entrega. O que constato sem me perguntar se é bem ou mal, se
assim perco algo que me teria feito diferente, melhor. Ou talvez não.