(Clique)
Já antes tinha anotado aqui a vantagem, para quem escreve, de estudar a primeira página de romances escritos por autores que realmente
sabem da poda. Paul Theroux é desses.
(Clique)
"Nasci pobre na América rica, contudo os meus
instintos secretos valiam mais do que dinheiro e eram para mim uma fonte de
poder. Tinha vantagens que ninguém me poderia tirar - uma memória lúcida, sonhos brilhantes, um
jeito para saber quando me sentia feliz.
Alcançava o topo da felicidade quando vivia duas vidas, e
era um gosto ser capaz de esconder a segunda: a do sonhador ou do manhoso.
Assim vivi os meus primeiros quinze anos. Quinze anos nesse tempo era ser
jovem, mas de uma coisa tinha a certeza: os pobres não contam. E foi assim que
num Verão, talvez por se sentir impaciente ou só, o meu segundo eu fez mais do
que acordar e vigiar, mais ainda do que recordar. Começou a ver como um
historiador e agiu em consequência. Tenho de tratar da vida, dizia-me eu."