quinta-feira, janeiro 22

A roda de cavalinhos

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De longe a longe dá-me vontade de escrever sobre o amor, paixões, sonhos, desejos, segredos, mas logo o bom-senso manda calma, passo então à sensaboria da política, aos mortos daqui, aos escândalos de acolá, às leituras de ontem, ao que pensei de madrugada.
Verdade é que chegando a certa idade, a maioria dos homens e mulheres como que se deixa arrumar em convenções, verga-se às ideias feitas, aceita, por vezes até cobardemente deseja, a fragilidade do corpo e o definhamento das emoções. Porque é mais repousante, evita chatices, há conforto no papel que os outros querem que representemos.
De um ancião não se espera concupiscência, menos ainda que a exprima alto e bom som, avozinha que se respeite sabe de ginjeira o papel de recatada virtude.
De maneira que novos e velhos desejamos mudanças, a realização dos nossos sonhos, a liberdade das nossas fantasias, mas sentamo-nos na roda de cavalinhos das convenções, iludidos que giramos, fingindo não dar conta que a volta é sempre a mesma.
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(*) Foto de Erwin Olaf, Chess Men.