Na primeira vez foi inesperado, intenso, a conjugação perfeita dos corpos e do sentir, um assombro de mistério revelado. Esqueceram a data, dispensam falar nas ocasiões em que se repete, são cuidadosos a nunca entre si, mesmo de forma velada, aludir ao segredo que partilham e os une com poder de sacramento.
Não forçam nem esperam, sabem que não lhes cabe a escolha
da hora, maravilha assim aborre preparos, técnicas, habilidades, combinações. Exige
pureza e ingenuidade. Exige abandono, entrega, aquele levitar feliz e raro de quando o
espírito ilude o corpo.
Ambos conhecem dores, sombras, desagrados e
desentendimentos, horas em que se evitam, as palavras más que deviam calar. Mas
também a euforia que nasce das pequenas coisas, das atenções, dos sorrisos de cumplicidade
que certas memórias chamam.
O seu dia-a-dia seria o de todos, não fosse aquele
segredo que lhes foi revelado, precioso, frágil, tão de outro mundo que as
palavras deste o destruiriam.