sábado, setembro 28

Remédios

Nunca fui bom na matéria, mas em vez de ganhar em senso e prudência, cada vez tenho mais dificuldade a fazer de modo que não se me leia na cara o que vai no coração. Por isso grande é o meu contentamento cada vez que, numa situação que o pede, consigo o facies do clássico jogador de póquer.
Assim é que semanas atrás me vi defronte do cardiologista que anualmente controla o funcionamento da máquina, e ele, explicando os porquês, sugeriu uma mudança de comprimidos.
Ouvi os argumentos, mas, curioso de saber mais e presto na investigação, fui-me ao Google a estudar os prós e contras da nova mezinha. O remédio fazia bem assim e assado, mas aumentava também em 36% o risco de ataque cardíaco. Franzi o sobrolho.
Visitei o meu médico pessoal e ele, que me trata há dezenas de anos e conhece bem, mostrou-se  franco à quase sempre contundente maneira holandesa
- Num homem de cinquenta seria um risco, mas na tua idade poderás viver dois ou três anos menos, mas com melhor qualidade de vida.
Consegui o fácies correspondente, despedimo-nos, perguntei-me que melhor qualidade de vida posso desejar do que esta que tenho, em que só os remédios me assustam?