Sempre gostei delas, ainda gosto, mas há tempos vi-me a pensar sobre as razões que num grupo, por vezes sem razão aparente, me levavam a contar uma anedota. Falo no passado, porque pus travão no hábito, desde que me apercebi que o impulso vinha menos do desejo de comunicar um chiste, fingindo agudeza do espírito, do que da necessidade de encher um tempo morto na conversa, ou desviar a atenção de um tópico que, por isto ou aquilo, parecia tornar-se melindroso.
Em muitas dessas ocasiões, porém, em vez de bóia de
salvação, a anedota apresenta-se como perigoso instrumento. É desagradável constatar
que este ou aquele conviva não está à altura da pointe, aqueloutro põe a nu o fraco intelecto, um terceiro reage
perigosamente, contando por sua vez uma anedota que nada tem com o assunto. De
morte é a boca aberta daqueles a quem o humor escapa, pior ainda a vacuidade de
alguns sorrisos.
Depois, hoje em dia, começa você a contar e logo alguém
lhe corta a palavra, porque já a leu na internet, conhece até uma versão melhorada,
o que se queria um inocente entretém torna-se polémica, adeus boa disposição.
De modo que, inveterado, e uma ou outra vez desastrado
contador de anedotas que fui, hoje em
dia remeto-me ao silêncio, e quando alguém anuncia que conhece uma mesmo boa, a
do japonês e a freira que detestava peixe, fecho-me em copas. Corra ele o risco
de divertir a companhia.