Custa a crer, mas acontece de verdade: há gente atacada de tão desmesurada cegueira, tão enfronhada nos seus pequeninos e grandes ódios, nos seus medos, nas suas raivas, que toma à letra o que é ironia, fica incapaz de distinguir entre facécia e realidade, sente-se solidária quando devia ficar de pé atrás.
Vai em dois anos, num momento daqueles em que a pátria me dói, desabafei aqui o nojo que me causam os sobas que nela mandam - governantes não são - e os salteadores que a pilham, os parasitas que a sugam.
A julgar que ironizava, pronto se me foi a ilusão quando comecei a receber felicitações e abraços duns tolos que lêem o que lá não está, e apoios no género "de facto as classes baixas nunca souberam o que querem", "o povinho precisa é de chicote, só assim aprende".
Deus Nosso Senhor dê vista e entendimento aos cegos que não distinguem a ironia, e se julgam mais do que o seu semelhante.