sexta-feira, maio 20

Cafajeste


É todo sorrisos, jovialidade, a dez metros vem já com os braços no ar, pronto para o apertão de costelas e as palmadinhas reconfortantes. Apressado, sempre em urgências e aflições, a mãe outra vez no hospital, a filha que caiu do cavalo, o carro que agora enguiça sem mais e lhe custa rios de dinheiro.
- Tudo bem?
O interesse, os dentes a brilhar, o modo de papagaio cabeça torta a fingir que aguarda a resposta, tudo nele é falso, de mau plástico. Crava almoços, trafulha nas contas, casa que visite não se despede sem levar de empréstimo aquele livro que anda com tanta vontade de ler e ainda não teve ocasião de comprar. Adeus livro.
O não ser totalmente pulha aumenta o desagrado que provoca. De um sacana cem por cento protege-se a gente passando de largo, ou dizendo-lhe de caras para onde queremos que se mande. Mas este é viscoso, desliza sobre ele a ironia, não se lhe pega o insulto, aos pontapés  responde com mesuras.
Cavalheiro na aparência, pobre diabo no íntimo, cafajeste na realidade.