Vieram da cidade para festejar todos os santos, abraçar os parentes e ir em romagem ao cemitério, onde um dia todos seremos fiéis defuntos.
Vieram em reluzentes coches que fazem contraste à porta das casas de pedra solta, e passam com uma ponta de arrogância, o modo absorto de quem não é daqui, nariz no ar, olhos no vazio. Mas tudo se compreende, tudo se lhes perdoa: escaparam à morte lenta que a aldeia é, e lá onde moram, labutam e sofrem, constroem a imagem do que querem parecer, envolvem-se no fino tecido de ilusão que um nada ameaça rasgar. Poucos haverá com suficiente conhecimento da vida para avaliar os medos em que eles vivem, quanto pesa a máscara que trazem afivelada.
Por isso tudo se lhes perdoa, mas acautela-se a gente: à volta do campo santo, talvez na pressa de daqui fugir, aceleram o coche, buzinam, suportam mal que se demore a dar passagem a tanta excelência.