sexta-feira, agosto 27

Evolução

No tempo em que havia Donas Guilherminas mandavam elas a Rosa fazer compras ao senhor Manuel. O merceeiro aumentava discretamente o peso, dava crédito à semana ou ao mês, apalpava a Rosa numa brincadeira inocente e dizia-lhe que não se esquecesse de dar recomendações à senhora e aos meninos.

Nesse passado feliz o planeta ainda não tinha aquecido, chovia no Inverno, o Sol brilhava no Verão, a fruta era madura, o peixe fresco, a carne de porco sabia a carne de porco, desconhecia-se o aviário, o Algarve era dos pescadores. Salazar tomava conta de nós todos, vivíamos felizes no jardim que, diziam os poetas, era o nosso e à beira-mar plantado.

Mas Salazar morreu, com as revoluções e as Europas já não há Rosas, nem Donas Guilherminas, o planeta ferve, perderam-se os sabores, chegaram os turistas, e o senhor Manuel tem um supermercado. Grande invenção que, como tantas mais, nos veio da América, e põe o freguês a trabalhar de marçano sem paga.

Supunha eu, na minha inocência, que nesse campo nada mais havia para inventar, mas desde há uns tempos o supermercado que frequento aqui em Amsterdam, introduziu um sistema em que o freguês não somente é marçano, mas ainda por cima faz de “menina da caixa”.

À entrada está uma geringonça onde você encosta o seu cartão de cliente, retira um scanner portátil, e com ele vai “disparando” sobre o código de barras dos produtos que quer. Se é coisa de fruta ou hortaliça a balança pesa e dá um talão com código.

Feitas as compras coloca-se o scanner noutra geringonça, esta faz as contas, produz um talão, e até fala, pedindo para introduzir o PIN. Pagou? Basta agora encostar o talão a outro scanner para que a barreira se abra.

Eficiente, rápido, simples. Ainda há ali umas dez ou doze caixas, para atender quem não está para modernices nem mudanças, mas pelo que vejo, e até pode ser que seja política da casa, as “meninas” que lá trabalham parecem cada vez mais trombudas e lentas no funcionar.







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