Biografias sempre li bastantes e de modo geral com agrado. No início, supondo que aprenderia com as vivências doutrem, mais tarde levado sobretudo pela curiosidade, fazendo aferições entre a minha e a vida alheia, uma forma de voyeurismo.
Em certo momento, perguntando-me se teria interesse deitar-me a escrever uma autobiografia, concluí pela negativa. É que forçosamente iria mentir, ajeitar, pintá-la de ficções, pôr suspense na banalidade. E sobretudo esconder. Tanto por vergonha como por aversão ao ridículo.
De modo que não me vejo a escrever a minha autobiografia, pois o resultado seria uma coisa híbrida, nem carne nem peixe, meias mentiras, meias verdades, gris e nevoeiros, alçapões, portas falsas, olvidos, alindamentos, paisagens trompe l'oeil…
Dessa introspecção resultou também que agora, ao lê-las, as meço por mim, e tento descobrir nas entrelinhas as verdades que as biografias escondem.