Uma boa dose de indiferença ajuda o bem-estar da alma e a saúde do fígado. O problema é que a indiferença, a genuína, tem de ser de fabrico próprio, não se compra em pílulas ou injecções.
Nesse particular da indiferença, confesso, encontro-me abaixo da média. Antes de me dar conta do que acontece e accionar o necessário travão, já o humor se me azeda.
Oiço um coreógrafo fazer estas afirmações profundas: "O homem é um ente desesperado, muito preso ao ser. Nasce e morre. Entretanto procura-se a si mesmo, cercado por uma natureza indiferente."
Essa convicção leva-o a que, no seu último bailado, os bailarinos e bailarinas dancem num palco quase às escuras, para que não se distingam os homens das mulheres, e assim , "sem o preconceito do sexo, o espectador se dê conta da libertação de energia".
Pergunto-me: não seria mais saudável e mais de adulto – para não dizer de sábio ancião – atentar nestas coisas com um sorriso de indiferença? Pois seria. E mostrar-me também complacente para com o amigo, passado dos cinquenta e idólatra de Michael Jackson, que numa voz perturbada me confessou ressentir a morte do cantor como uma tragédia pessoal.
Despedi-me apressado, temendo que ali na esplanada, e naquele estado de espírito, me presenteasse com uma interpretação do Moon Walk