sexta-feira, dezembro 3

O gosto da solidão

 

Para muitos será da idade, para mim é do temperamento, este gosto da solidão que tenho desde que me conheço, o bem-estar e paz sem explicações, sem respostas a dar ou atitudes a fingir.  Os livros são-me boa companhia, na escrita passo horas sem conta nem queixa.

A família compreende, os cães e os gatos sabem-no pelo sexto sentido.

Atento no que acontece no vasto mundo, oiço os vizinhos, mas é mais obrigação e hábito do que verdadeiro gosto ou necessidade. Não sou uma ilha, faço mesmo quanto posso para demorar a sê-lo, mas em redor vou levantando uma cerca feita de sorrisos, acenos, concordâncias, para na medida do possível escapar aos assaltos. Os da banalidade, mas também os das boas intenções, os daqueles que não se dão conta que nem todas as dores são para partilhar, e os que mantêm abaixo do sofrível a craveira dos seus interesses.

Quero aprender, mas dispenso que pretendam ensinar-me o que já sei ou, ingenuamente,  aconselhem receitas para a cura da minha prazenteira solidão.