terça-feira, setembro 23

Castelo de Paiva e a marquesa

Vinte anos atrás, em Portugal – um guia para amigos (*) ao descrever Castelo de Paiva anotei que a vila mantinha uma curiosa ligação com a França, em particular com Paris, dado que o palacete que se encontra no nr. 25 do Rond-Point des Champs-Elysées fora construído para a marquesa de Paiva. O acaso de leituras recentes leva-me a acrescentar estes detalhes.

Filha de um tecelão judeu, nascida em 1819 no gueto de Moscovo, Esther Lachmann viria a tornar-se, aos dezassete anos, uma das mais famosas, senão a mais famosa cortesã no Paris do seu tempo. Amante de Napoleão III, deixou fama pelo ostentoso estilo de vida e o número de homens que levou à ruína, entre outros Albino Francisco de Paiva Araújo, o marquês nosso compatriota. Com ele esteve casada um dia, e assim, depois de lhe ter apanhado o dinheiro, apanhou-lhe também o nome, acabando o infeliz por se suicidar.

A outro tolo pediu e recebeu doze mil francos por uma cópula. Nesse tempo uma fortuna. O tolo deu-lhos, e deve ter sido grande a surpresa ao descobrir que ela, blasée e indiferente, se entretinha a queimar as notas durante o acto.

São muitas e divertidas as histórias sobre La Paiva. Certa de que a idade não perdoa, a marquesa acabou por deitar o anzol a um proprietário de minas, o conde Henckel von Donnersmarck, entrando na respeitabilidade da aristocracia alemã e no esquecimento.

No palacete das suas orgias acha-se actualmente instalado o muito exclusivo Paris Travellers' Club, pouso de bilionários, diplomatas, monsenhores, gente dessa.

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(*) Inédito em português, foi editado em 1989 em holandês com o título: Portugal – een gids voor vrienden.