quarta-feira, setembro 27

Fare la bella figura

 
Cada um sabe de si, faz como gosta ou pode, o intróito anuncia que, ao contrário do geral dos meus concidadãos lusitanos, possuo nula vontade de mostrar ou parecer. Fare la bella figura é propósito que aplico à higiene corporal. No mais estou-me regaladamente nas tintas, e a respeito de opinião alheia só a dos que me são chegados interessa.

Dá isso lugar a burlescos quiproquós, olhares tortos, interessantes descobertas no carácter e nas atitudes do semelhante, as quais, tivesse eu menos segurança nos pés e na cabeça, poderiam resultar em desequilíbrios, ou no que os jornais antigos referiam como "cenas de pugilato".

Num ponto, todavia, creio que à minha maneira também sou capaz de fazer boa figura: gasto mais em livros do que em fatiota, vou comprando romances e esquecendo a camba dos sapatos.

Assim me vi dias atrás a hesitar se de facto precisava daquela camisa, e ao mesmo tempo recordando o livro que vira numa montra. Ganhou o livro e boas horas passei, ora a sorrir ora triste, porque Stephen Fry possui essa raridade: a arte de bem contar.